Nada é mais gratificante, em nossa vida, que ser lembrado pelas suas virtudes, mesmo que tenha feito para cumprir com as obrigações do cargo ou função.
Era o ano de 1978, quando assumi o cargo de presidente da Federação Metropolitana de Futebol, onde permaneci até 1983.
Encontrei uma federação profissional em que apenas o Brasília tinha como manter os jogadores assalariados, graças a empresários associados a Associação Comercial de Brasília; os demais (Ceilândia, Taguatinga, Guará, Desportiva Bandeirante, Gama e Sobradinho) eram semiprofissionais, pois os jogadores tinham que complementar seu sustento, com alguma atividade laboral, a fim de sustentar suas famílias.
Ao visitar a Confederação Brasileira de Desportos (CBD) fui recebido pelo Almirante Heleno Nunes, com certo descaso, pois ele era general e eu o 2º Sargento do Exército; quando falei de meus projetos, ele replicou dizendo que a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) não tinha interesse em investir em Brasília; respondi que iria realizar um congresso com os presidentes de federações de futebol e, a única coisa que gostaria de ter, era a presença dele na abertura; prometeu que iria, com um certo ar de descaso.
Fui chamado à CBD, a fim de ser informado que o presidente não poderia estar presente e, que eu deveria cancelar o evento; respondi já ter o compromisso de 21 federações, com a minha 22;
Um dia antes do início do evento, recebemos telegramas de 20 federações, comunicando a impossibilidade em comparecer, e de enviar representante.
Na data marcada encontramos o auditório do Ministério da Educação lotado; jornalistas de todos os órgãos da imprensa do País e do exterior,
Lá estava o Eduardo Portela, Ministro da Educação; Elmo Serejo, Governador do DF, Representante da Presidência da República e eu.
Dei por aberto os trabalhos; as autoridades se manifestaram, parabenizando a organização do evento.
A seguir dei por encerrado o Congresso, por falta de quórum; ante a surpresa geral, mostrei que em minha mão direita estavam 21 telegramas confirmando 30 dias antes; em minha mão esquerda 20 telegramas a desistência com data de ontem; demonstrando o boicote por parte da CBD e com isso me calar.
O tiro saiu pela culatra, pois houve uma demonstração tácita da incompetência administrativa da cúpula do futebol brasileiro.
O sargentinho se transformou em SARGENTÃO, assim como Davi, resolvi enfrentar Golias.
Não foi fácil, mas essa guerra resultou na mudança de CBD, para CBF.
Politicamente, federação de Brasília passou a ser tratada como um dos principais veículos de mudanças no futebol brasileiro; receber das TVs para transmissão dos jogos, uso de publicidade nas camisas, participação na arrecadação da Loteria Esportivos.
Gostaria de citar tudo quanto a FMF, contribuiu para que o futebol fosse respeitado, dentro e fora de campo.
Quem estiver interessado em saber tudo sobre essa virada do futebol brasileiro, bem como o de Brasília, deveria ler o livro – “Os Bastidores do Futebol Brasileiro”.
Saberão a resposta que o presidente João Figueiredo deu alguns militares, inclusive generais, que foram solicitar minha transferência para a Amazônia, bem como o que aconteceu quando o Presidente da FIFA, João Havelange procurou-me, para ser candidato a presidência da CBF.
Agradeço a todos quantos participaram dessa epopeia, principalmente a Justo Magalhães, que foi o vetor, de nosso sucesso.
Teve um preço, para eu conseguir tudo isso?
Problemas de ciumeiras eram constantes, inclusive entre colegas e superiores hierárquicos, que não aceitavam ver um sargento sendo recebido por autoridades do mais alto poder do Brasil e de Embaixadas; ser notícia, quase diária, em todo o Brasil, assim como, continuar a estar em forma para seu trabalho no Estado Maior do Exército; esse reconhecimento, depois de 41 anos, lavou minha alma.
PS – Aquisição do livro com Auristela – (61) 999593027
Ruy Telles