Teologia Política: Quando a Fé Vira Palanque

Renata Schuster Poli – Jornalista, pós graduada em Comunicação Eleitoral e Marketing Político, analista política com mais de vinte anos tendo trabalhado na Câmara Federal, vice-governadoria e governadoria do GDF, atualmente assessora na Câmara Legislativa DF.

Nos últimos anos, temos assistido a um movimento cada vez mais evidente de politização das igrejas no Brasil. Tanto em comunidades evangélicas quanto católicas, é comum ver lideranças religiosas declarando apoio aberto a candidatos, organizando encontros com figuras políticas e até usando o púlpito como espaço de campanha.

Mas o que mais chama a atenção não é apenas o apoio político em si – e sim a idolatria que vem se formando em torno de certos nomes. Especificamente, o culto que alguns líderes evangélicos têm promovido em torno do ex-presidente Jair Bolsonaro e da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, possível candidata ao Senado pelo Distrito Federal.

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Essa adoração vai além de simples preferências políticas. Estamos vendo discursos que colocam Bolsonaro como “ungido de Deus”, e Michelle como uma “escolhida para governar com temor e fé”. Cultos são transformados em comícios. Perfis religiosos em redes sociais viram canais de campanha. Tudo isso sob o pretexto de “defender valores cristãos”.

Recentemente, conversando com um pastor, ele fez uma analogia que me marcou: “Estamos vivendo algo parecido com o que aconteceu quando Moisés subiu ao monte Sinai. Enquanto ele estava com Deus, o povo se apressou em criar o bezerro de ouro e o adorou”. Ou seja, na ausência de um líder espiritual forte, muita gente busca um símbolo visível para colocar no lugar de Deus.

É exatamente isso que está acontecendo hoje: a fé está sendo substituída por figuras humanas, por salvadores políticos. E isso é perigoso.

A Teologia Política em Foco

A teologia política é uma área de estudo que analisa como religião e poder político se influenciam. Em si, não é algo ruim. A fé pode (e deve) dialogar com a sociedade e até influenciar decisões públicas em nome da justiça, da ética e do bem comum.

Mas quando essa influência se transforma em instrumentalização da fé – ou seja, quando o evangelho é moldado para caber em discursos de campanha –, temos um sério problema espiritual. Não é papel da Igreja ser palanque. Muito menos transformar políticos em deuses ou messias.

Cristo não veio ao mundo para fundar um partido ou assumir o trono de César. Ele veio para transformar corações e nos ensinar o caminho da verdade, da humildade e do amor. Qualquer liderança que usa o nome de Deus para promover interesses pessoais está desviando o foco do verdadeiro evangelho.

Fé não é Voto. Deus não é Bandeira.

Como cristãos, é normal termos opiniões políticas. É saudável discutir, debater, votar com consciência. Mas é preciso lembrar que o altar pertence a Deus – e não a nenhum candidato.

Precisamos vigiar. Precisamos questionar. E acima de tudo, precisamos lembrar: idolatria não é só adorar uma estátua – é colocar qualquer coisa no lugar de Deus.

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