
As eleições para o Senado em 2026 terão uma característica especial: duas vagas estarão em disputa no Distrito Federal. Essa peculiaridade muda completamente a dinâmica eleitoral, abrindo espaço para alianças transversais, votos cruzados e estratégias de composição que desafiam as fronteiras partidárias tradicionais. Nesse contexto, a senadora Leila do Vôlei (PDT) surge como uma figura-chave capaz de dialogar com diferentes segmentos do eleitorado — da esquerda progressista ao centro pragmático.
A possibilidade de a deputada federal Érika Kokay (PT) não disputar o Senado cria um movimento particularmente interessante. Kokay, que consolidou ao longo dos anos uma base fiel entre servidores públicos, educadores e militantes de esquerda, tem um eleitorado de convicção ideológica sólida. Em um cenário sem sua candidatura, esse contingente — que tende a se orientar pela coerência programática e pela defesa das pautas sociais — inevitavelmente buscará uma nova representação.
E é justamente nesse ponto que Leila do Vôlei aparece como a herdeira natural desse capital político. Embora não seja filiada ao PT, Leila ocupa um espaço de centro-esquerda moderado, defende pautas progressistas e tem forte apelo entre o eleitorado feminino. Além disso, construiu uma imagem de independência, ética e pragmatismo — atributos valorizados inclusive fora do espectro petista. Estima-se que entre 45% e 60% dos eleitores de Kokay poderiam migrar para Leila, especialmente se houver um gesto público de apoio ou uma aliança tácita entre PT e PDT no DF.
Mas o trunfo de Leila pode ir além da herança progressista. Com duas vagas em jogo, os eleitores têm direito a dois votos, e isso abre espaço para a lógica do “segundo voto útil” — aquele destinado a uma candidata percebida como equilibrada, confiável e com chances reais de vitória. Entre os apoiadores de Ibaneis Rocha (MDB), há um grupo expressivo de eleitores pragmáticos, de perfil mais administrativo do que ideológico. Esse eleitor pode manter sua primeira escolha em um nome da centro-direita e, ao mesmo tempo, incluir Leila como segundo voto, numa tentativa de contrabalançar o Senado com uma figura de perfil técnico e moderado. A transferência nesse grupo pode variar de 10% a 20%, um percentual que, em eleições apertadas, pode ser decisivo.
A força de Leila, portanto, está justamente na sua capacidade de transitar entre polos distintos sem se confundir com nenhum deles. Ela pode ser a candidata preferencial de quem rejeita os extremos, mas também uma opção viável para quem busca representatividade feminina e coerência progressista. O desafio, claro, será manter o equilíbrio narrativo: falar à esquerda sem afastar o centro, e acenar ao centro sem perder identidade política.
O risco de fragmentação, contudo, é real. Se Érika Kokay insistir em manter sua candidatura, a esquerda poderá dividir votos, abrindo espaço para nomes mais conservadores. Por outro lado, se o PT compreender que a melhor estratégia é unificar o campo progressista em torno de Leila, a senadora pode se consolidar como a principal representante desse segmento, com potencial de alcançar entre 20% e 30% do eleitorado total — patamar suficiente para figurar entre as duas mais votadas.
O jogo político do DF para o Senado será, portanto, uma disputa de travessias: entre a lealdade ideológica e o pragmatismo eleitoral; entre o voto de convicção e o voto de utilidade. E, nesse tabuleiro de duas vagas, Leila do Vôlei parece ter encontrado o meio de campo onde poucos conseguem jogar — o da convergência entre o idealismo progressista e o pragmatismo moderado.
Se souber aproveitar essa posição, poderá transformar o “segundo voto” de muitos em o primeiro passo rumo à reeleição.


