Estação Central do Metrô-DF vira palco de acolhimento por meio de cartas e de abraços


O jovem de braços estendidos leva uma venda nos olhos. Está imóvel no espaço que dá acesso à Estação Central da Companhia do Metropolitano (Metrô-DF). A cena, registrada nesta quinta-feira (20), é curiosa. Na correria de quem vai e de quem vem, muitos nem notam que o estudante Vinícius Cury, 22 anos, está ali, pronto para o abraço. Ao seu lado, há uma placa que convida: “Se você tem depressão ou ansiedade, me abrace”.

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Os olhos do rapaz são fechados para que não haja qualquer constrangimento por parte de quem precisa daquele afago. Na camisa cinza de Vinícius fica claro que a intenção é apenas acolher: “Não te julgo. Te ajudo”, está escrito. A ação é parte do projeto voluntário Help, que conta, há quatro anos, com parceria do Metrô-DF para levar uma oportunidade de apoiar as pessoas que estejam passando por alguma dificuldade emocional e de sensibilizar a comunidade sobre a importância de cuidar da saúde mental.

Esta é a oitava vez, desde 2021, que o Metrô-DF adere ao projeto, cedendo as instalações de suas estações para que a equipe do Help possa distribuir cartas, com mensagens de incentivos, além de oferecer, por meio de seus psicólogos voluntários, escutas ativas para quem precisa dividir o problema com um profissional e ser orientado a como pedir ajuda e buscar um tratamento.

Esta é a oitava vez, desde 2021, que o Metrô-DF adere ao projeto, cedendo as instalações de suas estações para que a equipe do Help possa distribuir cartas, com mensagens de incentivos | Foto: Divulgação/Metrô-DF

Coordenada pela gerência de Projetos Especiais do Metrô-DF, a parceria tem objetivo de criar um ambiente seguro para a promoção da saúde mental, reforçando o compromisso da companhia em investir e contribuir para o bem-estar da população. A ação, inclusive, foi certificada, em março deste ano, pelo Instituto Selo Social, que destaca organizações e empresas que geram impactos positivos na comunidade.

Eu quero um abraço

Teve gente que olhou para aquele rapaz vendado, oferecendo abraços, e estranhou. Curiosos, apenas seguiram adiante. Um adolescente até que tentou fazer a mãe parar e se aproximar do rapaz com a camisa que oferecia ajuda. Ela não parou, porém. Outro garotinho, no entanto, foi mais firme e abraçou Vinícius.

Sheila Meneses, 47 anos, também. Ela seguiu decidida e o abraçou. Saiu sorridente. “Senti uma alegria quando o vi e me deu vontade de abraçá-lo”, disse, antes de pegar o trem.

A jovem Letícia Alves rumava para a saída da Estação Central quando viu Vinícius. Ela voltou, abriu seus braços e encaixou sua cabeça no peito do voluntário. Ele conta que, nessas horas, costuma dizer palavras de conforto e de incentivo para quem pediu aquele carinho. Algo como: “Isso também vai passar” ou “A solução está dentro e não fora de você”. “Um dia me disseram isso quando eu precisei e me ajudou muito. Agora, é minha vez de retribuir”, conta o estudante.

Letícia decidiu ser abraçada porque “se sente sozinha muitas vezes”, conta enquanto os olhos verdes ficam avermelhados. Tem quatro meses que a mãe dela morreu, vítima de câncer.

Ela perdeu o cafuné, por isso, foi buscá-lo nos braços daquele desconhecido. Ao fim, ela recebeu uma das 8 mil cartinhas que os voluntários distribuíram entre os usuários que transitavam e levavam na bagagem suas histórias tão próprias e igualmente desconhecidas.

Letícia guardou o envelope. Um outro voluntário da Help a lembrou que, caso se sentisse triste, tivesse sintoma de ansiedade ou desconfiasse dos sinais de depressão, ela poderia ligar para o número que estava impresso no papel.

Alguém do outro lado ouviria sua queixa e procuraria ajudá-la. Se não fosse ela, mas se tivesse um amigo ou parente com dor na alma, era só compartilhar a informação.

Ao fim de uma ação como essa, são distribuídas entre 3 mil e 8 mil cartas e contabilizados até 100 abraços por um único voluntário. Vinícius diz que, depois de três ou quatro horas em pé, ouvindo histórias, a maioria de enredos tristes, chega em casa fisicamente exausto. Mas com o coração leve e alma recompensada. “Eu me sinto feliz se tiver alcançado pelo menos uma pessoa”.

*Com informações da Companhia do Metropolitano (Metrô-DF)



FONTE AGENCIA BRASÍLIA

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