Congresso Nacional: A Casa do Povo ou de Poucos?

Renata Schuster Poli – Jornalista, pós graduada em Comunicação Eleitoral e Marketing Político, analista política com mais de vinte anos tendo trabalhado na Câmara Federal, vice-governadoria e governadoria do GDF, atualmente assessora na Câmara Legislativa DF.

O Congresso Nacional, símbolo da democracia brasileira, deveria ser um espaço acessível e acolhedor para todos os cidadãos, uma verdadeira “casa do povo”. No entanto, ao visitar a Câmara Federal e o Senado, nos deparamos com uma realidade que revela um contraste preocupante entre a ideia de representatividade e a prática cotidiana.

Logo ao tentar estacionar nas imediações das casas legislativas, a população se depara com a realidade de estacionamentos restritos exclusivamente a funcionários das instituições, o que dificulta o acesso daqueles que, em teoria, são os reais donos daquele espaço: os cidadãos. Esta restrição não só limita o acesso, mas também evidencia uma clara desconexão entre os representantes eleitos e o povo que os escolheu. Quando a dificuldade já é evidente para os cidadãos em geral, ela se agrava ainda mais para aqueles com algum tipo de deficiência, que, por exemplo, se vêem obrigados a caminhar por distâncias de mais de um quilômetro até o ponto mais próximo de acesso, em um local onde, teoricamente, deveriam ser atendidos com mais respeito e dignidade.

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A jornada até o Congresso Nacional não termina com o estacionamento. Ao adentrar o local, o visitante se vê diante de um verdadeiro labirinto, onde corredores bloqueados por seguranças dificultam a circulação. A sensação de estar em um espaço restrito, quase inacessível, se intensifica ainda mais à medida que a segurança do local, visivelmente preocupada, aborda constantemente os visitantes, como se houvesse um medo latente de que o povo se aproximasse demais dos seus representantes. O que deveria ser um ambiente de transparência e acessibilidade, se transforma em um campo minado de obstáculos, tanto físicos quanto simbólicos, que reafirma a distância entre o poder e a população.

É impossível não questionar: será que o Congresso Nacional, na prática, ainda é realmente a casa do povo? Ou estaria se tornando, aos poucos, um lugar reservado apenas para poucos, aqueles que possuem privilégios e acesso facilitado, enquanto a grande maioria fica à margem, excluída e distante da política que deveria ser sua? O que se observa é um claro distanciamento dos parlamentares, que muitas vezes só se tornam visíveis no período eleitoral, com seu compromisso com a população se perdendo nas barreiras físicas e simbólicas que tornam difícil até mesmo a aproximação ao local onde eles trabalham – ou ao menos onde são pagos para trabalhar.

Se o Congresso Nacional ainda se considera a “casa do povo”, é necessário refletir profundamente sobre como reverter esse quadro de exclusão, distanciamento e desprezo pelas condições mínimas de acessibilidade e transparência. Enquanto a acessibilidade física e política continuar sendo um obstáculo, a verdadeira casa do povo seguirá sendo, na prática, uma casa de poucos.

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