Defesa de Carlinhos Cachoeira pede anulação de documentos contrários ao empresário devido a possíveis manipulações nas provas em desfavor dos réus
Após mais de 10 anos, as provas utilizadas na operação Monte Carlo, caso que ganhou as manchetes do noticiário político nacional em 2012, podem ser anuladas após o delegado da Polícia Federal que conduziu o caso, Matheus Rodrigues, confessar possíveis manipulações nas provas em desfavor dos réus.
Em um pedido encaminhado em 22 de novembro passado à desembargadora relatora do caso, Maria do Carmo Cardoso, a defesa de Carlos Augusto Ramos, conhecido como Carlinhos Cachoeira, um dos principais alvos da operação, pede a anulação da documentação contrária ao empresário do jogo devido a um depoimento prestado pelo delegado que conduziu o caso.
Como o delegado Matheus Rodrigues ainda não havia sido ouvido durante toda a década posterior à operação, as declarações dadas pelo representante da Polícia Federal em um depoimento à Justiça Federal em 07 de novembro do ano passado, confessando possíveis ilícitos na condução da operação, servem e estão sendo utilizadas pelos réus como prova de que gravações da Monte Carlo teriam sido “manipuladas”.
Segundo afirmou Rodrigues em seu depoimento gravado pela Justiça, políticos flagrados nas interceptações telefônicas com diferentes prerrogativas de foros acabaram sendo concentrados na Justiça Federal de Goiânia, o que seria incomum e poderá ser considerado um procedimento “extravagante”.
Entre os políticos investigados na operação Monte Carlo está o ex-senador Demóstenes Torres, que teve o mandato cassado em decorrência dos desdobramentos da operação. Atualmente, Torres é advogado de Anderson Torres, ex-ministro da Justiça e Segurança Pública preso devido aos desdobramentos do ataque de vândalos às sedes dos três Poderes em Brasília.
O delegado também confessou que as gravações envolvendo autoridades com foro eram “valorados” ou separados das provas quando não tinham, sob sua avaliação, “relevância penal”. A defesa alega que os atos supostamente ilegais do delegado teriam “mutilado” as provas oriundas das interceptações judiciais e que a operação pode ser anulada como resultado.
Rodrigues também confessou que teria omitido do juiz de primeira instância que autorizou a deflagração da operação Monte Carlo as autoridades com prerrogativa de foro nos relatórios enviados ao magistrado no início das investigações. Segundo o delegado, diálogos envolvendo autoridades com foro privilegiado eram considerados irrelevantes e, por isso, não eram remetidos para tribunais superiores.
Essa atitude do delegado, de decidir por conta própria a relevância ou não das gravações, vai contra o procedimento legal, que determina que essa função seja do juiz ou dos magistrados do caso. Além disso, a defesa alega que as provas foram mutiladas e que houve a prática de fishing expedition, ou seja, a busca intencional de provas que serão usadas contra um determinado réu.
Com base nessas irregularidades, a defesa de Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, pede a anulação das provas contrárias ao empresário do jogo. (Fonte: Ricardo Antunes)