Análise Política: MDB e o risco de chutar um candidato de ouro

Renata Schuster Poli – Jornalista, pós graduada em Comunicação Eleitoral e Marketing Político, analista política com mais de vinte anos tendo trabalhado na Câmara Federal, vice-governadoria e governadoria do GDF, atualmente assessora na Câmara Legislativa DF.

A possível expulsão do deputado distrital Daniel Donizet dos quadros do MDB representa um dilema estratégico para a legenda, especialmente sob a ótica do planejamento eleitoral para 2026. Ao ceder às pressões externas muitas delas impulsionadas por setores da mídia e por movimentos com interesses bem definidos o partido corre o risco de abrir mão de um ativo eleitoral relevante, sem retorno político equivalente.

Donizet tem potencial para se tornar um dos principais puxadores de voto da sigla no Distrito Federal. Em 2022, foi eleito deputado distrital com 33.573 votos. Projeções conservadoras indicam que, em uma candidatura à Câmara dos Deputados, ele pode ultrapassar a marca de 90 mil votos o que o colocaria entre os nomes de maior densidade eleitoral do MDB no DF.

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O contraste é evidente: o primeiro suplente da chapa de deputado federal do MDB em 2022 obteve apenas 10.079 votos, e a soma dos demais candidatos suplentes chegou a 40.818 votos. Na prática, Donizet sozinho poderia alcançar o mesmo desempenho de toda a chapa federal do partido na eleição anterior. Este dado, por si só, já impõe à cúpula partidária uma reflexão sobre custo-benefício político.

Além do capital eleitoral, Donizet tem consolidado imagem junto a um nicho específico, mas altamente mobilizado: a causa animal. Programas como o Castra DF e o Ração do Bem, aliados à destinação de emendas parlamentares para regiões periféricas, ampliaram sua base social. Político sem condenações e alinhado com o governo Ibaneis Rocha, ele também vem se mantendo fiel à pauta governista na CLDF.

Outro ponto relevante na equação é o simbolismo de sua recente fala sobre saúde mental. A manifestação pública sobre questões emocionais e a busca por apoio psicológico humanizaram sua imagem e abriram espaço para empatia junto à opinião pública. Eventual punição neste contexto pode ser interpretada como insensibilidade institucional um risco real para a reputação do partido, sobretudo em um ambiente político cada vez mais atento ao comportamento ético e emocional dos seus representantes.

As acusações que recaem sobre o parlamentar são de natureza pessoal e, até o momento, não possuem relação direta com seu exercício legislativo. Apesar disso, Donizet tem enfrentado um desgaste significativo, ampliado por um movimento articulado nos bastidores com objetivos políticos claros. A direção nacional e local do MDB já tomou conhecimento desses movimentos, o que tende a tornar o processo decisório mais cuidadoso.

O cenário que se desenha exige do MDB uma avaliação pragmática. Expulsar um nome com peso eleitoral considerável pode representar um gesto de coerência ética — como alegam alguns —, mas também pode significar uma perda política concreta, tanto em número de votos quanto na capacidade de articulação partidária futura.

A decisão final não é apenas sobre Donizet. É sobre o MDB e sua leitura de cenário: pragmatismo eleitoral ou resposta à pressão de grupos externos. O custo de errar esse cálculo pode ser alto.

 

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